quarta-feira, 9 de setembro de 2009

A noite em que o TCA virou CBGB.

Era começo de noite de uma sexta feira e a escadaria do Teatro Castro Alves estava cheia. Ouvi de alguns conhecidos que 'toda a população metida a cult de Salvador' se encontrava ali. Ri do comentário e confesso que concordei, em parte. Perto, encostados numa pilastra, um casal alheio a todo o burburinho parecia vindo de outro planeta.
Estava claro que a maioria esmagadora do público estava ali por causa da banda americana Beirut. Sucesso no país depois de ter uma música incluída na metida a moderna minissérie global Capitu, a banda chegou aqui com status de estrela. O caminho da entrada até as poltronas numeradas foram pontuados por inúmeras a paradas para acenos e 'ois' para os conhecidos. Parecia que todo mundo se conhecia, exceto o casal de Marte, que seguiu o seu caminho sem interrupções.
O festival marcado para às 19h30 começou na hora e aqueles acostumados com os eventos na cidade se surpreenderam com a pontualidade quase britânica. Vi muita gente correndo por entre os corredores para chegar a tempo em seus lugares (muitas vezes já ocupados por espertinhos).
Depois de algum tempo apreciando shows de outras bandas dentro da 16a edição do Percpan, o público dava sinais de cansaço e impaciência. Mas quando, após o intervalo, as luzes se apagaram e as palmas, assobios e "uhus" tomaram conta da sala é que o espetáculo de fato começou. A noite tinha tudo para ser grande.
As primeiras canções foram executadas de forma identificável mas quando, em seu Português trôpego, o vocalista, a essa altura - depois de várias cervejas - , já trôpego também, convidou o público a se levantar e aproximar do palco. A partir daí uma onda de loucura arrebatou a platéia, em grande parte de jovens e adolescentes um tanto quanto histéricas, que sem a menor cerimônia aceitou o convite e invadiu o placo. Daí em diante um festival de excentricidade (ou seria desrespeito?), mútuo, deu o tom da apresentação. Luzes acesas, letras esquecidas, músicas interrompidas, roubo/sumiço de instrumentos...Enfim, o palco do teatro - que não recebeu a trupe do famoso circo canadense que fazia turnê por essas bandas -, acolheu outro circo: o dos bêbados do 'folk-gypsy-balcãs-indie-rock (?)' e sua horda de "fãs". Pros desavisados que por acaso ali chegassem, a impressão seria que, ao invés do tão propagado apreço por Caetano Veloso, Os Mutantes e outros artistas tropicalistas e influência clichê para músicos estrangeiros, a banda tivesse sido inspirada pelos shows tensos do Sex Pistols.
Mas enquanto alguns desistiam e deixavam o local pela porta lateral e outros bravos resitiam, empurrando e sendo empurrados à frente do palco, o casal de Marte permanecia sentado em sua fileira Z, alheios à balbúrdia lá em baixo, como se nada de estranho tivesse acontecido.
Talvez eles não tenham vindo de Marte, e sim do 'CBGB' dos anos 70.


Júlia Isabel V. de Freitas

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