terça-feira, 15 de setembro de 2009

Inútel, pensamentos inútel


É engraçado como o ser humano ainda consegue me surpreender. Uma simples tarefa como tirar fotos conseguiu ser tão divertida para uns (os facilmente impressionáveis) quanto entediante para outros (os seletivos). Eu não tirei foto. O vazio da minha máquina fotográfica revela o vazio que esse trabalho foi para mim.

Teve até gente que ficou impressionada como os patos se coçavam ao mesmo tempo, e na mesma posição. Talvez para essa pessoa tenha sido realmente impressionante ou talvez o meu ceticismo seja baseado no fato de minhas cachorras fazerem isso o tempo todo ou talvez, somente talvez, essa tenho sido a coisa mais estúpida do mundo. E eu posso jurar que os gritinhos das garotas da turma (ou das groupies?) são os mesmos que você pode escutar quando algumas fãs encontram Márcio “Vitú” no aeroporto 2 de Julho (Luis Eduardo Magalhães é uma ilusão do baiano pró-ACM). Numa onda de criatividade bitolada, todos começaram a acreditar que estavam sendo originais tirando fotos do pavão exibicionista, e sua enorme cauda – reprodução fiel dos adornos multi-étnicos usados por Ivete Sangalo - quando pra mim, interessante seria se o mesmo pavão começasse uma briga de galo com os patos do lago.

Enquanto algumas pessoas ficaram embaixo de um sol escaldante se divertindo e tirando fotos “da galera”- que tenho certeza, alguns nunca trocaram uma palavra- eu fiquei sentada na sombra conversando sobre o revival do Menudo e observava a interação de algumas e a divisão escolar de outras. No final das contas eu tive a impressão de não ter observado nada, porque tudo o que aconteceu naquele “píer” acontece o tempo todo, dos gritinhos à divisão tão high school de sempre e confesso que fiquei surpresa; estou tão acostumada a viver numa hierarquia social que quando vi tudo pelo lado de fora ainda achei normal. Confesso também que não conseguia parar de pensar em Charles Darwin (agora cabe a vocês pensarem no porquê).

Análises sociológicas a parte, durante todo o tempo em que estive sentada no meu banquinho, eu ficava pensando no pavão. “Seria engraçado se pavão desse língua”, “suba aqui e roube uma câmera”, “mostre sua pena média”, e eis que, depois de todo o grupo ter partido, o pavão subiu no “píer”. E eu me lembro que meus últimos pensamentos durante a execução desse trabalho foram: “corra, corra pela sua privacidade, corra pela passarela!” e “o que aconteceria se ele fosse para a pista?”. Nesse momento percebi que minha máquina fotográfica estava vazia, mas minha cabeça estava cheia de pensamentos inúteis.

Carol Patriarca

Um comentário:

  1. (os seletivos)????
    (agora cabe a vocês -Quem?-pensarem no porquê)????
    "Nesse momento percebi que minha máquina fotográfica estava vazia, mas minha cabeça estava cheia de pensamentos inúteis".

    Não seria: "A minha máquina estava Inútil, pois minha cabeça estava cheia de pensamentos vazios".

    Nesse momento,Darwin deve estar se remoendo na sepultura, porque a seleção natural, virou uma falsa metalinguagem...

    "No final das contas eu tive a impressão de não ter observado nada"...Porque tudo o que aconteceu naquele “píer” acontece o tempo todo"...
    Agora é aceitável o porquê disso, depois de tanto tempo desprendido à observar -num ato fútil- a futilidade alheia, se enxergar numa moldura tão clara é um exercício vazio.

    ResponderExcluir